Vamos falar sobre um assunto delicado?
É terrível o que está acontecendo em algumas partes do mundo, não é mesmo? Não precisamos ir tão longe para enxergar os impactos: basta olhar para o estado de Santa Catarina. Você tem acompanhando o que está acontecendo neste mês de janeiro, no litoral?
O que muitas pessoas talvez não saibam é que a maioria desses desastres naturais não são apenas obras da natureza. Eles têm forte relação com o crescimento urbano desordenado. A forma como as cidades se expandem é uma questão central para arquitetos e urbanistas, e sem um planejamento adequado, o crescimento das cidades acaba resultando em uma série de problemas indesejáveis para as cidades e seu entorno.
Este é um tema urgente, portanto, temos de falar sobre isso cada vez mais, pois envolve não apenas questões de urbanização, mas também de qualidade de vida humana, sustentabilidade, planejamento e resiliência das cidades. Você já parou para pensar em quantas vidas são impactadas por conta de desastres como enchentes e deslizamentos? Muitas vezes, a mídia não mostra a completa extensão do problema, dificultando muito a conscientização coletiva.
Mas como as cidades crescem? Existem, basicamente, duas formas: crescimento vertical e crescimento horizontal.
O crescimento vertical ocorre com a construção de edifícios, como torres residenciais e comerciais, em áreas urbanas já consolidadas. Nada mais é do que um adensamento populacional, buscando a otimização de espaço.
Já o crescimento horizontal é uma expansão das cidades para áreas antes não urbanizadas, criando novos bairros. Muitas vezes, esse crescimento acontece de forma indevida e não planejada, levando à ocupação de áreas de risco, como encostas, margens de rios e terrenos instáveis. Um típico exemplo é o surgimento de favelas, onde as pessoas, sem opções, constroem suas casas em locais impróprios para moradia.
Mas a grande pergunta ainda permanece: como o crescimento urbano está relacionado aos desastres naturais?
A resposta está nas consequências desse tipo de crescimento desordenado. Com o avanço das construções, as áreas verdes são substituídas por asfalto, concreto e prédios, reduzindo as superfícies permeáveis do solo. Isso significa que a água da chuva não consegue mais ser absorvida. Quando não existe essa infiltração natural, a água fica acumulada na superfície, gerando enchentes e alagamentos, até que consiga ser drenada pelas redes urbanas – que, na maioria das vezes, não estão preparadas para tamanha demanda.
Outro problema é a perda de vegetação, que é essencial para estabilizar o solo. Por isso o desmatamento é um outro grande problema. Sem essa cobertura vegetal, os riscos de deslizamentos aumentam significativamente, principalmente em regiões montanhosas, como é o caso de Santa Catarina.
O crescimento vertical, por sua vez, também traz desafios. Embora otimize o uso do solo, ele aumenta drasticamente a densidade populacional em determinadas áreas, pressionando sistemas de drenagem, saneamento e infraestrutura. Além disso, cria microclimas urbanos conhecidos como “ilhas de calor”, que podem alterar o clima local e intensificar chuvas e tempestades.
Santa Catarina, em especial, possui uma geografia rica, mas também muito vulnerável. Suas montanhas, rios e áreas costeiras fazem do estado um lugar lindo, mas também suscetível a desastres naturais. E quando o crescimento urbano acontece de maneira desordenada, esses riscos se tornam ainda maiores. Um exemplo claro é Balneário Camboriú: com seu alto adensamento populacional e urbanização intensa, a cidade enfrenta frequentes problemas de alagamento, agravados pela falta de áreas verdes e pela pressão sobre a infraestrutura.
Portanto, é fundamental que o crescimento urbano seja planejado de forma responsável, integrando soluções que priorizem a sustentabilidade e a resiliência das cidades. Isso inclui proteger áreas verdes, investir em sistemas de drenagem eficientes e educar a população sobre a importância do planejamento urbano.
O crescimento das cidades é inevitável, mas ele precisa ser conduzido com cuidado. Caso contrário, as consequências – como temos visto – podem ser devastadoras.